quarta-feira, 15 de agosto de 2007

As Sensaçoes de Júpiter

Entretanto acordei…



Começa o dia. Em pleno chilrar dos pássaros
Voam cores, aparecem até sombras mudas...
Vem o verme juízo, o que vem dos ácaros.
A mente que finge com armaduras
Que desdenham jornais em forma de puras
Para um corredor de salas e de armários
Que só eu não consigo explica-los,
São preces, são destinos, são vaidades,
São até desatinos de quem somos otários
Ou ate de quem não se encontra e quer encontra-los.
Apenas, são poemas que pela manha nos acordam,
São sentimentos que nos transtornam
Todas estas verdades.
Pura tristeza de pensar
Querer e não tentar.









Sento-me, eu.



Sento-me aqui, sentindo tudo.
Esta angustia, este verme dia
Transladado, aquecido, mudo.
Acordei simples como todos feriados
E pensei que nada fosse tudo, todavia
O pleno silencio da rangedora cadeira,
Fez-me ambíguo de sentidos calados.
Porque raio sou eu e não sou nada
Do que se sonha afinal na eira?
Da alma abafada, com consciência meia?
A dois palmos da terra a dois dentes da fama…
Foi cegueira imposta sobre o trilho futuro,
Incerto na cura de estar sentado.
Não vejo nada face a tudo.
Não tenho nada se estiver calado.








Imagina-te…



Ali estava eu. Mais um!
Expectante, e ofuscado
Por ainda aquela vida. Além…
Uma vida de alguém, um rebuçado.
Agora sabor sem som, sabor sem tom…
Um nostálgico sentido que veio,
Saudoso vestido que te fica bem,
Alem!! Quem vem?
Que não venha,
Essa tal não sabe a senha…
Céu de abóbora que me tapa o sol,
Por verdes que sou tenro, que sou mole,
Sou Torga, e sou Pessoa, e sou Aviz,
Haveis quebrado o sonho que eu fiz…
Quem me dera ser feliz…









Afinal…



Se esta angustia que me carrega
Eu a pudesse largar um dia
Soltava a fera… Era de acalmia…
O meu ser, que me encontro, me escorrega.
E este mar, esta guerra?
Esta fome, esta merda!!!
Sou Deus e não sou ninguém?
Lâmina de vidro que me encandeias,
Caminho meu, o que me dais?
-“Sê-de puro, tê-de orelhas”.
Roubais tudo, e tudo tirais…
Manto de intriga, que paixão divina
Por maldade sois tudo. Uma espada.
Blindados de veludo!?
Não sois nada.









Que pensamento…



Um castelo ao fundo,
Pelo menos perecia
Pelo formato das árvores.
Dali via o mundo,
Toda aquela arquitectura
Semeada sem entraves.
Soprava o vento e eu aqui!
Um vasto tempo eu lembrava…
Olha, já me entristeci.
E levou-me o vento uma folha
Feita nela um S. Cristóvão,
-Carregas o mundo: diz Ele.
Consigo eu, dentro desta pele
Suportar o céu e este mar
Que sinto, deixei de amar?
Oh. Incerto neste sentir…
Voltei os olhos, quis partir.







Pautado



Porque uma melodia é diferente,
E nesse silêncio tudo é imenso,
Tudo bate, tudo esmorece e sente.
O corpo aquece. E paira no ventre uma dor,
Arde o incenso e o consenso da alma.
Leio as veias da pinha palma,
Nela canto. Nela penso o consenso
De estar sentado em silêncio…
Ali, aqui sim. Está quente,
Quentinho, quando me lembro de ti.
Oh paz de alma abafada,
Dá-me garra e dá-me força
Que não seja remorsa ou uma barra.
Que seja pura a almofada,
Onde me deito e descanso
Nesta melodia que eu balanço.







Ambíguo Ermo

Consciência que me apaga a lembrança
Pavio acesso que me torna em criança
Eu trago luz, muito pouca luz
Neste quarto escuro que não me produz

Tenho saudade que me dá a liberdade
Com um acorde eu incuto a verdade
Eu trago pão, muito pouco pão
Pois quando acaba o som tudo foi em vão.

Pego na arma e pressiono o gatilho
Mato meio milhão com balas feitas de milho
E eu trago vinho, muito pouco vinho
Neste, cálice fino! Eu já fui menino.

Estou num cesto entre duas árvores
só tenho o nylon e a pele dos meus dedos
E eu tenho um dão, eu sei que tenho dom.
Mas estou encurralado pelos teus segredos

Tiro a camisa, os calções ou os sapatos
E fico gente, preexistente aos teus boatos
Não tenho cruz, eu não tenho cruz
Com o que semeias serás sempre um avestruz

Tens de ser louco para saberes os teus limites
Tens que ouvir, sentir, olhar sem que me imites
Tu queres o feio, o mau e o vilão
Tu queres o meio e as migalhas do teu próprio pão.

Não chores o tempo sem que tenhas nada em troca
Imita a chuva que só cai quando há fartura
Tu és o Joca, o Miguel e o Ventura
Tu és a roca, o pastel e a goiva dura.

Sem comentários: